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“A MAIOR DE TODAS AS IGNORÂNCIAS É REJEITAR UMA COISA SOBRE A QUAL VOCÊ NADA SABE."

domingo, 8 de maio de 2011

Papo de Bode

O irmão Milas recebe em casa a visita dos irmãos Otaner e Ramehda. A esposa de Milas auxilia na Recepção e todos se cumprimentam e se beijam. Com a alegria de sempre, eles se sentam e antes de iciarem as conversas, Milas pede à esposa:
— "Querida, por favor, peça à Maria que providencie aquele cafezinho três 'efes'- fraco, frio e fedido prá esses dois 'efes' " — sorrindo, e antes de aparecer adjetivos maliciosos, completou: "falantes e fraternos". Todos riem muito. Na verdade eles estavam pedindo "cobertura de sala", temporária, à cunhada. Ela entende muito bem, pede licença e sai. Recomenda à empregada que prepare o café e volta a fazer o que fazia antes na saleta anexa: costurar a alça do avental de Milas que havia arrebentado. Enquanto costura vai pensando: "Milas está engordando muito; precisa moderar nesses... como é mesmo aquela palavra que eles falam?...a...ágape...isso...precisa diminuir esses ágapes semanais". E a conversa na sala principal é tão alta que chega a ser impossível deixar de ouvi-la.
— "Ontem eu estive na Quinta Essência", disse Otaner.
— "E ela é da Sereníssima?", pergunta Ramehda.
— "Lógico, é a 349. Foi uma sessão pra lá de Jota e Pê. Não era Magna, todos estavam de balandrau, mas fizeram a entrada de Past Master com a abóbada de aço e estrelas. O Veeme comandou uma bateria incessante. Depois esse Filho da Viúva apresentou uma senhora peça de arquitetura. Falou de um obreiro que seguiu para o Oriente Eterno, depois de trabalhar incessantemente nas Pedras Bruta e Polida e considerava o Livro da Lei a obra máxima na Terra."
Com a agulha e a linha, a cunhada vai unindo novamente a alça do avental, mas, por mais que se esforçe, não consegue unir aquelas palavras a um sentido qualquer.
— "E eu estava, na semana passada, na Era de Aquarius, lá em Ribeirão", fala Ramehda. "Eu nunca vi tantas colunas gravadas na bolsa! Eram pranchas e mais pranchas, muitas prévias, e um pedido de Quit-Placet; todos ficaram surpresos, principalmente as luzes; fiquei com pena do Secretário: a medida que o Veeme ia decifrando, ele ia botando tudo aquilo no balaústre. Também fiquei bobo de ver a quantidade de metais no Tronco. a única coisa que eu não gostei, foi quando eles formaram a cadeia para passar a semestral, eu tive de ficar no Átrio."
A esposa continua a não entender bulhufas.
— "Mas é claro, se você não é do Quadro...", argumenta Milas. "Nesse caso não importa quantos degraus você subiu na escada de Jacob. E, falando nisso...", continua, "em junho participei de trabalhos de banquete na Seguidores em Cruzeiro. Meti o meu 'ne verietur' no livro e nem foi preciso ser trolhado. O betume estava delicioso e a pólvora vermelha estava divina. Fizemos bons fogos. Na Bem da Ordem, ou melhor sobre o Ato, falei sobre alguns landmarks e depois agradeci."
A cunhada já se considerando uma estrangeira, serve o café em silêncio e momentos seguintes os irmãos se despedem e se vão, após o tradicional "Que o Grande Arquiteto os acompanhe". —
Querido — pergunta a esposa — por quê vocês não conversam como pessoas normais?"
Milas beija-lhe a fronte e, sorrindo, responde:
— "Porque você é uma linda goteira !"

Um comentário:

  1. Eu acho brilhante esta linguagem própria do maçon e/ou participantes de fraternidades. De uma forma mais subjetiva é muito bom encontrar pessoas que falem a nossa lingua.
    Paz profunda.

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